ARTIGO ABERTO
Uma alteração genômica que ganhou muito destaque nos últimos anos foi HER2. Trata-se de um receptor de superfície celular pertencente à família c-Erb à qual também pertence o EGFR. É bem documentada a sua presença e a efetividade das drogas anti-HER2 em câncer de mama, desde o trabalho pivotal de Slamon na N Engl J Med em 2001 1. Nos últimos anos, vimos a aprovação destas drogas também para outras neoplasias. O ToGA trial consolidou transtuzumab + QT em cânceres de estômago e esôfago ao mostrar ganho de SG 2. Em câncer de pulmão também, HER2 é um driver e há muitos relatos de resposta com afatinibe e trastuzumabe 3-5. Até em glândula salivar 6 e tumores pancreatobiliares 7 já foram documentadas alterações genômicas em HER2 e eficácia de múltiplas de suas drogas inibitórias.
1 – Slamon, D. N Engl J Med 2001; 344:783
2 – Bang, Y. Lancet 2010; 376(9742):687
3- Auliac, J. Adv Ther 2019; 36:2161
4– Pillai, R. Cancer 2017; 123:4099
5- Godoy-Ortiz, A. Front Oncol 2019; 9(1124):1
6 – Kurzrock, R. Ann Oncol 2020; 31(3):412
7 – Assenat, E. Int J Cancer 2021; 148(3):682
OBS: diferentemente de cólon, mama e estômago/esôfago, nos quais a alteração genômica de HER2 é amplificação, em pulmão falamos de mutação, que ocorre no éxon 20 de HER2.
O universo de terapias anti-HER2 ganhou, recentemente, um reforço de muito peso: trastuzumabe deruxtecan (T-Dxd). Trata-se de um conjugado anticorpo-droga de trastuzumabe ligado a uma droga inibidora da topoisomerase I com elevado potencial citotóxico por seu payload. Dados em câncer de mama (DESTINY-breast01) 1, estômago (DESTINY-gastric01) 2, pulmão (DESTINY-lung01) 3 e colorretal (DESTINY-CRC01) 4 foram recentemente publicados na ASCO e ESMO de 2020. As taxas de resposta (TR) para cada um deles surpreende demais: 60,9%, 51%, 61% e 45,3% respectivamente. Levando-se em consideração que se trata de populações já extensamente tratadas previamente, estes dados chamam MUITO a atenção. Ao se somar à TR aqueles que atingiram estabilização de doença, a taxa de benefício clínico beira surpreendentes 80% de benefício clínico para estas indicações. A mediana de duração de resposta e a SG sequer haviam sido alcançadas em muitos destes estudos. Em termos de toxicidade, chama a atenção a ocorrência de casos de doença intersticial pulmonar (DIP) potencialmente fatal. A conduta recomendada é os tratar agressivamente com corticosteroides diante da menor suspeita de que isso possa estar ocorrendo.
A primeira aprovação de T-Dxd ocorreu em 20 de dezembro de 2019 para pacientes com câncer de mama HER2+ avançado e refratários a ≥ 2 linhas de tratamento prévios. Em 18 de maio de 2020, o FDA concedeu breakthrough designation a T-Dxt também para pacientes com câncer de pulmão portadores de mutações em HER2. E, jan/2021, foi a vez de tumores gástricos/JEG e, em 2022, de tumores de mama HER2-low.
1 – Modi, S. N Engl J Med 2020; 382:610
2 – Shitara, K. N Engl J Med 2020; 382(25):2419
3 – Smit, E. J Clin Oncol 2020; 38(15):suppl_9504
4 – Siena, S. J Clin Oncol 2020; 38(15):suppl_4000